E.E. Victório Bravim de Marechal Floriano

 

Este ano mostraremos aqui uma série de reportagens sobre escolas que vêm se destacando na OBMEP. São casos que mostram como todo o ambiente escolar - gestores, professores, alunos e responsáveis - tem sido beneficiado por trocas de experiências bastante frutíferas.


Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Victório Bravim, de Marechal Floriano (ES)

 

O senso comum tende a presumir que a escola capixaba com melhor pontuação na 11ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP 2015) fique na capital ou no centro de uma cidade do interior. Mas não. A escola número 1 do estado  na Olimpíada, Victório Bravim, fica na zona rural da cidade de Marechal Floriano, no distrito de Araguaia, a 77 quilômetros de Vitória. Encravada na belíssima região serrana do estado, Marechal Floriano conta hoje com cerca de 14 mil habitantes, muitos deles descendentes de italianos ou alemães.

 

Entende-se por “pontuação” a soma dos valores atribuídos às medalhas de ouro, prata e bronze, e às menções honrosas, e na OBMEP 2015, a Victório Bravim ficou à frente, inclusive, dos institutos federais localizados no Espírito Santo. Se usarmos outro critério de classificação, o “desempenho”, que consiste na divisão do total de pontos obtidos pela escola pelo número de alunos classificados para a 2ª fase da competição, a escola também se destaca. Tanto em 2015 quanto no acumulado histórico da Olimpíada (2005 a 2015), a Victório Bravim fica em primeiro lugar dentre as escolas não seletivas do Estado, ou seja, dentre as municipais e estaduais.

 

A escola obteve premiações em todas as edições da OBMEP, seja medalha ou menção honrosa. Na OBMEP 2015, seus alunos conquistaram duas medalhas de ouro, duas de prata, três de bronze e nove menções honrosas. Entre 2005 e 2015, foram seis ouros (dois em 2015, dois em 2014, um em 2013 e um em 2011), seis pratas, 18 bronzes e 94 menções honrosas. Em média, a escola tem entre 20 e 25 estudantes classificados para a prova da 2ª fase da OBMEP, mas nas duas últimas edições, participou com 27 alunos nesta etapa decisiva.

 

Cercada de verde por todos os lados e de frente para uma plantação de café que ocupa uma encosta, a Victório Bravim é também um dos destaques estaduais no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sempre ocupando uma das primeiras posições dentre as escolas públicas do Espírito Santo. Em virtude do sucesso na OBMEP (e também em outras olimpíadas do conhecimento) e no Enem, a escola tem suas vagas disputadas por alunos não só de Araguaia, mas também de outros distritos, do centro da cidade de Marechal Floriano e de municípios vizinhos.

 

Segundo a diretora Liane Bravim (que, sim, tem relação de parentesco com a pessoa que empresta o nome ao estabelecimento escolar), mais de 80% dos alunos necessitam de transporte escolar para chegar todos os dias à escola. Em sua grande maioria, os estudantes moram na “roça”, e seus pais ou são pequenos produtores rurais ou trabalhadores de empresas ligadas à indústria madeireira. Cerca de metade deles até hoje não tem internet em casa.

 

Com uma fama de ser muito exigente que ultrapassa os muros da escola, a diretora não arrisca uma explicação única para o sucesso na OBMEP e nas avaliações federais e estaduais. Para ela, que este ano está completando 30 anos à frente da Victório Bravim, os resultados positivos refletem uma combinação de professores dedicados, disciplina e “foco nos alunos”. “Acho que não há uma fórmula mágica. Nossos professores vestem a camisa da escola e buscam valorizar e motivar os alunos. Os resultados na Olimpíada e no Enem são sempre divulgados e comemorados, e os alunos vivem em um ambiente que estimula as conquistas deles”, diz.

 

Professores que criaram uma cultura de olimpíada na escola

 

Em geral, nas escolas que apresentam excelentes resultados na OBMEP, é comum encontrarmos professores que, além de incentivar os alunos a participar da Olimpíada, também se dispõem a lhes dar aulas preparatórias no contra-turno e mesmo nos fins de semana. O caso da Escola Victório Bravim é impar. Nunca houve um projeto específico para a OBMEP, com aulas de matemática olímpica dadas em horários especiais. Mas se faltou a aula extra de preparação, sobraram disposição e vibração de dois professores que vêm conscientizando os alunos sobre o valor de participar e estudar para as provas da Olimpíada desde a sua primeira edição, em 2005. Eles são os professores Luiz Carlos Alves da Silva e Alexsandra Alves Pereira.

 

Professora da escola há 14 anos, Alexsandra inscreve os alunos na OBMEP desde 2005 e os incentiva a participar. “Divulgamos as datas das provas e os materiais de estudo, principalmente os bancos de questões e as provas de edições anteriores, e trazemos algumas atividades diferentes para a sala de aula. Nosso maior papel tem sido mesmo o de incentivar e indicar para os alunos livros e sites (como o da própria OBMEP), onde eles encontram os materiais para estudar”, conta.

 

Mesmo tendo a escola resultados tão expressivos na OBMEP, a professora diz que sente falta de uma “atividade extra” com os alunos. “Trabalhamos os conteúdos dos livros didáticos em sala de aula e tentamos apontar outros caminhos para os alunos que desejam ir além. Mas não é muito mais que isso o que fazemos. Seria ótimo se tivéssemos um projeto especifico para as olimpíadas de matemática. Se sem esse trabalho já temos premiações todos os anos, com ele, então, poderíamos ir bem mais longe”.

 

Alexsandra conta, com orgulho, que, mesmo sem as tais “atividades extras”, a Victório Bravim já criou uma “cultura de olimpíada”. “Há muitos alunos que vêm para a nossa escola a fim de participar e ser premiados na OBMEP. Eles ouvem falar de projetos como o Programa de Iniciação Científica (PIC), que os coloca em contato direto com professores universitários, e passam a sonhar com isso. O PIC é muito importante na cabeça deles, porque, além do incentivo do conhecimento e, claro, do dinheiro da bolsa, representa a oportunidade de ter outras atividades fora da escola, da cidade. Os alunos também se miram no exemplo dos medalhistas de ouro, que ganham uma viagem ao Rio de Janeiro para participar da cerimônia nacional de premiação, ficam hospedados em um hotel chique e fazem amizades com colegas de vários outros estados”.

 

Entre 2005 e 2015, a professora Alexsandra dividiu a responsabilidade pela OBMEP na escola Victório Bravim com o professor Luiz Carlos Alves da Silva, que também dá aulas em outra escola de Marechal Floriano com tradição de bons resultados na Olimpíada, a Escola Municipal Nicolau Krohling.

 

“Trabalhei 12 anos na Victório Bravim e estou indo para o 14º ano na Nicolau Krohling. Optei por ficar somente nesta, do município, por ser efetivo e por estar muito envolvido com o projeto da Olimpíada Florianense de Matemática”. Hoje, aproximadamente 90% dos alunos da Nicolau Krohling fazem o Ensino Médio na Victório Bravim.

           

Segundo Luiz Carlos, o primeiro ano da OBMEP (2005) teve grande importância nos resultados colhidos nos anos seguintes. “Tivemos premiações nas duas escolas, e isso teve um impacto nos alunos da região como um todo”. Em 2005, a Victório Bravim teve uma medalha de prata, uma de bronze e seis menções honrosas, enquanto a Nicolau Krohling teve dois bronzes e duas menções honrosas.

 

Mesmo antes do surgimento da OBMEP, Luiz Carlos já gostava de olimpíadas de matemática. “Sempre criei competições nas próprias escolas, e antes de 2005, eu já incentivava os alunos a participar da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), que tem um nível mais elevado, e da Olimpíada Capixaba de Matemática (OCM). Essas iniciativas são formas de valorizar os alunos com talento para a matemática, porque os conteúdos dados em sala de aula deixam muito a desejar. Com as olimpíadas, as crianças têm oportunidade de ver uma matemática diferente, e para nós é encantador perceber a maneira criativa como elas resolvem os problemas”.

 

Sobre a liderança da Victório Bravim no ranking capixaba da OBMEP, o professor tem uma opinião semelhante à da colega Alexsandra: “apesar de não termos cursos específicos de treinamento para as olimpíadas, sempre entregamos materiais para os alunos estudarem em casa e, dentro do possível, os ajudamos. Procuramos mostrar aos alunos o que é possível conseguir com esforço e dedicação. Acho que o segredo do sucesso é acreditar nos alunos, conseguir ver as particularidades e o potencial de cada um, e trabalhar a autoestima deles. Também não podemos esquecer que a família tem um papel fundamental nesse processo. Os pais também devem entender que participar de uma competição como a OBMEP pode mudar a vida dos seus filhos”.

 

Desde 2015, o professor Luiz Carlos está conseguindo implementar na Escola Nicolau Krohling um projeto de aulas preparatórias para olimpíadas de matemática, com a participação de 28 alunos do 5º ao 9º ano. “Com o trabalho no contra turno, consigo perceber mais diretamente as dificuldades e necessidades dos alunos, uma vez que posso dar prioridade somente a conteúdos específicos de olimpíada. Apesar de ter iniciado um pouco tarde, somente no ano passado, já é possível observar uma série de avanços. Creio que passaremos a ter alunos premiados até na OBM, e isto antes era quase impossível”.   

 

Para Luiz Carlos, também não foi impossível criar em 2015 um projeto que envolve 100% dos alunos da rede municipal - A Olimpíada Florianense de Matemática (OFMAT). “Já realizamos a prova da 1ª fase no dia 1º de junho. A 2ª fase será em setembro, e a premiação em dezembro. É uma iniciativa desafiadora, porque envolve alunos a partir do 3º ano. São quatro níveis: alunos do 3º ano (Nível 1), alunos do 4º e 5º (Nível 2),  alunos do 6º e 7º (Nível 3) e alunos do 8º e 9º (Nível 4). “A OFMAT, assim como a OBM e a OBMEP, dá aos alunos a oportunidade de ver como a matemática pode ser interessante. Nós, professores, e a escola como instituição, precisamos pensar em maneiras de motivar os alunos. Temos talentos em qualquer escola. Quando eles não aparecem, é porque não estão sendo motivados”.

 

Alunos premiados na OBMEP 2015

 

A escola Victório Bravim teve dois medalhistas de ouro na OBMEP 2015: Anderson de Souza Pin, de 15 anos, que está no 2º ano do Ensino Médio, e Laysa Gilles Guide, de 12 anos, que está no 7° ano do Ensino Fundamental.

 

Anderson foi menção honrosa em 2013, e nos dois anos seguintes, medalhista de ouro. O upgrade de premiação é atribuído por ele à participação no PIC. “Nos encontros presenciais do programa, em Vitória, conheci muito alunos que gostavam de matemática. Passei a conviver com eles, e isto me influenciou. As medalhas de ouro vieram porque passei a me dedicar bem mais aos estudos, e o PIC, claro, ajudou muito”.

 

Já Laysa mal estreou na OBMEP e foi logo ganhando uma medalha de ouro. “Conheci a Olimpíada antes por intermédio do meu irmão, que já havia conquistado muitas medalhas. Ele me incentivou muito a participar e me ajudou na preparação para as provas. Acho desafiador participar de olimpíadas de matemática. É uma oportunidade que temos para aprender e ao mesmo tempo testar os nossos conhecimentos. É muito legal pensar nas soluções dos problemas das provas e dos bancos de questões. Isto nos estimular a querer aprofundar cada vez mais”.

 

Em 2015, a Victório Bravim também teve dois medalhistas de prata na OBMEP: Débora Cristina Venâncio Ribeiro, de 13 anos, que está cursando o 8º ano do Ensino Fundamental, e Matheus Peterle Modolo, de 12 anos, que está no 7º ano.

 

Débora conta que o apoio do professor João Manuel Santos foi essencial para que ela ganhasse uma medalha de bronze em 2014 e uma de prata em 2015. “Sempre gostei de matemática, mas até o 5º ano, não me esforçava. Aí, no sexto, fiz a prova da OBMEP, mesmo sem estar muito confiante, e ganhei medalha de bronze. No ano passado, me dediquei mais e também participei do PIC. Resolvi todos os bancos de questões que havia na escola e fui medalha de prata. Quero continuar aprendendo mais e me superando. Hoje, as aulas em sala de aula estão bem mais fáceis porque fiz o PIC. É comum o professor ensinar algum conteúdo novo que eu já sei”.

 

Aluno do 7º ano, Matheus Peterle Modolo, de 12 anos, também foi medalhista de prata em 2015. Matheus deixa a modéstia de lado quando diz que “quase gabaritava as provas de matemática em sala de aula”, mesmo não gostando da matéria. “Passei a gostar mesmo depois que peguei um livro na biblioteca que mostrava a matemática de um jeito diferente. Na verdade, nunca fui muito fã de livros. Porém, em uma aula de português, a professora pediu que cada um pegasse um livro para ler, e eu peguei o livro “Matemática Divertida e Curiosa”, por causa do título. Lendo o livro, vi que havia muitos problemas interessantes e divertidos. Motivado por esse livro, estudei bastante para a prova da 2ª fase da OBMEP. Baixei as provas dos anos anteriores, usei um outro livro do 9º ano, que um primo me emprestou (e que também explicava a matemática de uma forma bem legal), e ganhei medalha de prata. Este ano quero ouro”.

 

Outro aluno da escola, Willian Bremenkamp, de 16 anos, que está no 3º ano do Ensino Médio, também foi fisgado para a matemática por obra de um livro. “Um colega me emprestou o livro do Fomin (“A Experiência Russa”, de Dmitri Fomin), que ele havia ganho no Programa de Iniciação Científica (PIC), da OBMEP. Acho que esse livro foi fundamental para eu passar a gostar mais de matemática e, consequentemente, conquistar a medalha de bronze na Olimpíada, no 2º ano. Até então, eu só havia ganho uma menção honrosa no 9º ano. Sempre tive vontade de ganhar uma medalha, mas não me esforçava tanto, e, no ano passado, decidi realmente focar na OBMEP. Este ano, mesmo estudando muito para o Enem, vou tentar ganhar um ouro. Depois que ganhamos uma medalha, nos sentimos mais valorizados. Vemos que todo aquele tempo dedicado em casa aos estudos vale a pena”. 




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